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Foto do escritorDra. Jaqueline Souza

Transição de Gênero em Crianças e Adolescentes Trans: Bloqueio Puberal, Hormonização e o Papel do Apoio Social


A transição de gênero em crianças e adolescentes trans envolve intervenções médicas que ajudam a alinhar o desenvolvimento físico com a identidade de gênero. As principais intervenções médicas são o bloqueio puberal e a hormonização, que são reguladas por diretrizes nacionais, como as da Resolução n. 2.265/2019 do Conselho Federal de Medicina (CFM). Além disso é importante garantir o uso do nome social, além de promover o apoio familiar e um ambiente escolar acolhedor, aspectos essenciais para o bem-estar emocional e social dos jovens trans.


Bloqueio Puberal

O bloqueio hormonal é indicado para jovens trans no início da puberdade, geralmente a partir do estágio Tanner 2, que marca os primeiros sinais de desenvolvimento puberal. O bloqueio tem como objetivo interromper o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, como o crescimento de pelos e alterações na voz, que podem intensificar a disforia de gênero. Esse bloqueio é feito com o uso de análogos do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRHa), e é um procedimento reversível, ou seja, ao interromper o tratamento, a puberdade pode ser retomada.

O bloqueio permite que a pessoa e a família tenham mais tempo para explorar as questões de identidade de gênero antes de tomar decisões sobre o início da hormonização. Além disso, ajuda a reduzir a necessidade de intervenções cirúrgicas futuras, caso a pessoa deseje realizar essas modificações.


Hormonização

A hormonização, que consiste no uso de hormônios para induzir características físicas associadas ao gênero com o qual a pessoa se identifica, pode ser iniciada a partir dos 16 anos, conforme as diretrizes brasileiras. Esse tratamento é parcialmente irreversível, já que algumas mudanças, como o desenvolvimento de mamas ou o engrossamento da voz, são permanentes.

A hormonização deve ser realizada de forma gradual, com aumento progressivo das doses hormonais, simulando o desenvolvimento natural da puberdade. Para pessoas transfemininas, o tratamento pode incluir estrógeno e antiandrogênicos, enquanto para pessoas transmasculinas, a testosterona promove características masculinas.



Importância do Uso do Nome Social

O nome social é essencial para a validação da identidade de pessoas trans, promovendo respeito e reconhecimento. Seu uso em escolas e ambientes sociais melhora a qualidade de vida e reduz o sofrimento emocional causado pela exclusão. Estudos mostram que a recusa ao nome social está diretamente associada ao aumento da marginalização e do sofrimento psicológico entre pessoas trans. Garantir o uso correto do nome social, especialmente na documentação escolar, é um passo

fundamental para a inclusão e bem-estar.


Apoio Familiar e Escolar

O apoio familiar é crucial no processo de transição de crianças e adolescentes trans, proporcionando segurança emocional e reduzindo riscos de problemas como depressão e ansiedade. Famílias que respeitam e validam a identidade de seus filhos contribuem significativamente para a saúde mental deles. No ambiente escolar, é essencial que o respeito ao nome social e o combate ao bullying façam parte das práticas diárias, garantindo um espaço seguro e inclusivo. A falta de respeito ao nome social e a discriminação podem levar à evasão escolar, agravando a exclusão social.


Impactos

Tanto o bloqueio puberal quanto a hormonização trazem benefícios psicológicos significativos, como a redução da disforia de gênero e a promoção de uma vivência mais alinhada à identidade de gênero. No entanto, é fundamental discutir as implicações reprodutivas antes de iniciar o tratamento, pois ambos os procedimentos podem afetar a fertilidade. É recomendado considerar a preservação de gametas (óvulos ou espermatozoides) antes de iniciar o bloqueio ou a hormonização.

Esses procedimentos devem ser realizados em centros especializados, com o consentimento da pessoa trans e de seus responsáveis, e sob supervisão médica constante, para monitorar eventuais efeitos colaterais e garantir o melhor desfecho possível para a saúde física e mental.


Considerações

A transição de gênero em crianças e adolescentes é um processo delicado, que requer acompanhamento cuidadoso e individualizado. Além do bloqueio puberal e da hormonização, fatores como o uso do nome social, o apoio familiar e um ambiente escolar inclusivo são fundamentais para proporcionar uma melhoria significativa na qualidade de vida de pessoas trans. Esses aspectos, quando bem integrados, oferecem um caminho para viver de maneira mais confortável e alinhada com a própria identidade de gênero, garantindo o respeito e a dignidade de cada indivíduo.


Forte Abraço!!!


Dra. Jaqueline Souza - Médica, Sexóloga Clínica, Terapeuta sexual -RM-PE:20335 | RQE:11791






Referências

  • Ciasca, S. V., Hercowitz, A., & Lopes Junior, A. (Eds.). (2021). Saúde LGBTQIA+: Práticas de Cuidado Transdisciplinar. Editora Manole.

  • Benevides, B., & Nogueira, S. (2021). Dossiê dos Assassinatos e da Violência contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2020. São Paulo: Expressão Popular; ANTRA.

  • Alves, C., & Moreira, M. (2015). Do uso do nome social ao uso do banheiro: (trans) subjetividades em escolas brasileiras. Quaderns de Psicologia.

  • Bento, B. (2011). Na escola se aprende que a diferença faz a diferença. Revista Estudos Feministas.

 

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